domingo, 18 de março de 2012

REFLEXÃO: Reconstruir é a decisão

Os livros de Esdras, Jeremias e Neemias, que são profetas que falaram ao povo de Deus, desde o começo da Canção Nova, falaram muito a nós. Repetidas vezes esses textos caíam nas nossas orações na abertura da Bíblia, de mil maneiras eles voltavam e nós fomos entendendo que eram textos que o Senhor queria nos mostrar, porque a nossa missão estava ali. E como nós estamos em família, como eu tenho a certeza de que você – que nos vê pela televisão, nos ouve pelo rádio ou nos acompanha pela internet – também faz parte desta família, que Deus constituiu, eu falo com toda liberdade. 

Começo explicando que o povo judeu, porque se afastou de Deus, caiu em idolatria e em todo um descaminho, e acabou sendo vítima de Nabucodonosor, rei da Babilônia, que veio com seus exércitos e arrasou a cidade de Jerusalém. Apenas deixaram alguns agricultores, os quais para eles não tinham grande valia; mas os guerreiros todos, os homens que trabalhavam em coisas de arte e outros ofícios, os nobres do povo, os sacerdotes, todos eles foram levados ao exílio na Babilônia. E lá permaneceram durante muito tempo como escravos. Jerusalém ficou completamente destruída.

Depois de muito tempo, aconteceu algo que ninguém podia esperar. Verdade que os profetas daquele tempo diziam, mas a desolação daquele povo era tão grande, que eles não tinham mais esperança. Como voltar para a própria terra e como reconstruir a sua cidade, as suas casas, o templo do Senhor? Humanamente, isso era uma coisa impossível. Mas Deus suscitou justamente Ciro, rei da Pérsia, que era pagão, não tinha nada a ver com o povo judeu, para essa tarefa, o qual acabou vencendo os povos vizinhos. Então, ele também tomou posse da Babilônia e, com um decreto imperial, deu ordens para que todos os judeus, que quisessem, tinham a liberdade de voltar para a sua pátria. Nesse decreto, ele facilitava tudo e dava ordens para que tanto na Babilônia como na própria terra dos judeus, fossem fornecidos a eles madeira, as pedras necessárias, todo o material de construção. Enfim tudo, até mesmo pedras preciosas – como ouro e prata – para que eles pudessem reconstruir o templo, a cidade e as muralhas. Isso ninguém podia esperar.

É muito interessante observar que no Livro de Isaías, o próprio Deus fala que isso foi iniciativa d'Ele, que fez isso intencionalmente, e que, embora o povo estranhasse essa atitude de um rei pagão, Ele queria mostrar-lhe [ao povo] que foi Ele quem suscitou Ciro para que ele fizesse tudo isso, porque era Ele, o Senhor, quem na verdade queria reconstruir a cidade. Embora o povo não o merecesse, a misericórdia e o amor de Deus pela cidade – que Ele mesmo construiu – eram tão grandes, de forma que o povo, que era o povo d'Ele, que estava destruído, viu que tudo poderia ser reconstruído por vontade do Senhor.

A leitura de hoje dá um salto e vai logo para o capítulo 6, contando a consagração templo. Foi, não somente uma festa, mas um esplendor o que aconteceu com a construção desse local. Mas se lermos também o Livro de Neemias, o administrador de tudo aquilo, perceberemos como foi duro, como foi penoso, porque os povos, que estavam ao redor, não queriam que o povo judeu reconstruísse nada. Foi preciso que Esdras e Neemias estivessem o tempo todo animando e reanimando o povo para que, com todo esforço, todos eles fossem para o trabalho árduo da reconstrução de tudo. Eles não começaram reconstruindo suas casas, eles queriam, primeiro, reconstruir o templo do Senhor; mas, ao perceber a inimizade dos povos vizinhos, viram que primeiro era preciso construir muralhas.

Quem vai hoje a Jerusalém e vê a cidade cercada de muralhas, com pedras enormes, calcula o trabalho que foi reconstruí-las. Isso para que eles pudessem se defender dos povos vizinhos, que se tornaram inimigos, para só depois reconstruir o templo, como vimos na leitura de hoje. Isso foi muito lindo, pois eles perceberam e acreditaram que o que estavam fazendo era um prodígio do Senhor.

Meus irmãos, sempre que eu retorno a essas passagens, que fazem parte da nossa vida, lembro-me de São Francisco de Assis, quando o Senhor, mesmo do crucifixo, disse-lhe: "Francisco, reconstrua a minha Igreja que está se destruindo". Francisco pensou que Deus queria que ele reconstruísse aquela capela de São Damião, que ainda hoje podemos visitar em Assis. Somente trazendo o povo para ajudar na reconstrução, vivendo lado a lado, rezando e pregando para este é que Francisco foi percebendo que a vontade do Senhor era a reconstrução da Igreja viva. Francisco não fez uma reforma, ele fez uma reconstrução.

Estamos em tempos de reconstrução, porque vemos quantas pessoas destruídas, arrasadas, sem esperança; destruídas pela bebida, pelas drogas, em uma vida prostituída. Elas são filhas de Deus. Quantas delas vivem nas ruas, favelas, participam de toda violência, que impera por todos os lados e, muitas vezes, nós as classificamos como bandidas. Mas, na verdade, elas são vítimas da própria sociedade que nós construímos. A destruição delas é o resultado, a conseqüência de uma sociedade egoísta e individualista. E quantas pessoas que não estão destruídas visivelmente, pois têm casas, vestem-se e trabalham, mas que estão destruídas. É certo que nós construímos muitas delas e talvez eu esteja falando a muitas pessoas destruídas dessa forma. O Senhor quer a reconstrução dessas pessoas porque são filhas e precisam ser reconstruídas. Quantos casamentos destruídos, e como o Senhor falou a Francisco, que vão se destruindo. Não pense que simplesmente marido e mulher acabam se separando, pois mesmo que não percebam, eles estão se destruindo; além da destruição que causam nos próprios filhos. Só que nós estamos nos acostumando a isso, mas quem é filho – resultado de um desastre como esse –, sabe muito bem o que acontece com eles.

O próprio padre Rufus [exorcista indiano que esteve na Canção Nova nos últimos dois finais de semana] disse-nos que o que mais sentiu no Brasil foi uma orfandade de filhos de pais vivos. Ele percebeu a ausência de pai. Todas essas pessoas, todos esses casamentos e famílias precisam ser reconstruídos.

Estamos na mesma situação que o povo de Jerusalém estava: Os judeus deportados, vivendo no exílio, a sua cidade e o seu templo destruídos, e, humanamente, era impossível reconstruí-los. Muitos de nós olhamos para o estado da nossa sociedade, para o estado das pessoas e também dizemos que não há solução; mas para Deus nada é impossível! Aí está a nossa missão, por isso, o Senhor falou muito no início da Canção Nova e continua a nos falar. Agora, quando voltamos a essa leitura, vemos, no livro de Zacarias, que não é pela força, muito menos pela violência, que se fará essa obra, mas pelo Espírito de Deus.

Tivemos uma demonstração maravilhosa nesses dez dias que passamos [com padre Rufus na Canção Nova]. No primeiro acampamento que tivemos com ele [de 14 a 16 de setembro] e no segundo [de 22 a 24 de setembro]. Ele permaneceu durante a semana na Canção Nova trabalhando com cerca de 100 padres que fizeram um retiro. Já nesse último final de semana, pudemos ver que além de todos os estragos terríveis que o inimigo faz com as pessoas, ele disse que todas as que foram a rituais, que recorreram a outras pessoas e que pensavam que fossem [lugares] de Deus, mas na verdade, não eram, por isso foram oprimidas e até mesmo dominadas e possuídas pelo inimigo. Todos elas também tinham marcas, feridas terríveis por falta de amor; eram pessoas destruídas afetivamente, carregando um duro fardo de não terem sido amadas. E, por isso que o inimigo também pôde, aproveitando-se das feridas, das mágoas, da destruição interior, dominá-las. É uma covardia terrível, mas nós vimos, ouvimos e presenciamos o desastre que o inimigo faz com os filhos de Deus. Não que ele fez e terminou, o maligno continua fazendo e é por isso que nós temos de entrar em ação.

São Paulo diz claramente que a nossa luta não é contra as pessoas de carne e sangue, mas contra os principados e potestades deste mundo tenebroso que nos rodeia. É uma verdade, há um mundo de trevas que nos rodeia. Entre todos aqueles que o Senhor tem chamado, nós, Canção Nova, embora não sejamos o tudo, somos apenas uma obra do Senhor, mas nós somos chamados, como Francisco de Assis, a reconstruir as pessoas.

Retomando o profeta Zacarias: não é pela força nem pela violência, mas pelo Espírito Santo de Deus é que se fará esta obra.

Participei de todos esses dez dias [de Acampamento de Cura e Libertação com o padre Rufus] e também do encontro com os sacerdotes. O Senhor foi trabalhando muito no meu interior e preciso dizer que precisamos retomar, com todo ardor, primeiro à grande graça que nós recebemos, que a Bíblia chama de o “batismo no Espírito Santo”. Fomos batizados no Espírito Santo, mas precisamos colocar essa graça em ação, porque se nós não a colocamos, Ele não vai “saltar para fora de nós”, mas nós vamos perdendo a força d’Ele em nós.

Uma vez cheios do Espírito, possuídos pelo Espírito Santo, claro, é Ele que vem a nós, vem com todos os dons e é Ele quem vai dando a cada um os dons conforme Ele quiser. Eu sei que não é a todos que Ele dá uma quantidade tão linda e uma força tão grande de dons do Espírito de carismas como acontece, por exemplo, com o padre Rufus. Mas nenhum de nós está sem dons.

Estou declarando que – com esta passagem do padre Rufus [pela Canção Nova], depois desses anos todos que ele teve de se ausentar, depois da beleza que nós presenciamos nesses dias –, entramos numa outra época na Canção Nova. Uma época nova na qual temos de entrar com todo o ardor. Estamos no ano do “Reinflama do Carisma”, todos nós precisamos ser carismáticos com todo entusiasmo, precisamos usar os carismas de Deus para reconstruir a Igreja. E tudo o que fizermos (e aí entra toda nossa família, claro, começa por nós consagrados, mas é para toda nossa família) – tudo o que fizermos, até as simples orações que nós fazemos, mas que na verdade não são simples orações, elas devem ser feitas no poder do Espírito, e com a força e os carismas de Deus.

As celebrações que nós temos, nas pregações que nós fazemos, as nossas Missas, especialmente as de segunda-feira, que é para pedir a libertação; da quarta-feira, para pedir ao Senhor a cura; a Missa de quinta-feira, que está dentro daquele contexto lindo da adoração a Jesus Eucarístico durante todo o dia. Tudo isso precisa ser fortemente carismático para reconstruir esse nosso povo destruído. E que tudo o mais que nós fizermos, especialmente os acampamentos, os atendimentos que nós damos às pessoas e a nossa vida, tudo precisa ser pleno dos carismas. É preciso que aconteça conosco aquilo que fizeram com os primeiros cristãos. Enquanto Pedro e João estavam presos, quando libertados, voltaram e encontraram a comunidade rezando por eles. Pedro e João contaram todas as ameaças que os sacerdotes e os chefes do povo fizeram a eles, mas o povo, ao invés de temer, fez uma grande oração dizendo: "Agora, Senhor, olhe as ameaças que fazem e concede que seus servos anunciem, corajosamente, a tua Palavra". Quando terminaram a oração, tremeu o lugar onde estavam reunidos e todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciaram, com intrepidez, a Palavra de Deus.

Meus irmãos, é preciso pedir essa graça e a irmos colocando em prática para reconstruir esse povo de Deus, que são nossos irmãos e também para nossa reconstrução, porque todos nós precisamos de construção. Temos de pedir ao Senhor para que sejam realizados curas, sinais e prodígios em nome de seu santo Servo, Jesus.

É vontade de Deus e é vontade minha, que assim seja. E eu quero que todos possam dizer: "É vontade de Deus e, portanto, é vontade também minha que isso aconteça". Você está disposto a dizê-lo?

"Renova, Senhor, os seus prodígios, as suas curas, os seus sinais, as suas maravilhas para a reconstrução desse seu povo e para a reconstrução da sua Igreja. Eis-me aqui, Senhor. Quero ser cheio do Espírito Santo, quero ser usado por todos os seus dons do Espírito Santo. Dê-me essa graça, dê-me essa decisão". Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém .

Mons. Jonas Abib

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