Fomos marcados por um conceito de fé totalmente errado, como se fé fosse somente acreditar na existência de Deus, nos dogmas da Igreja, na virgindade da Santíssima Virgem Maria, na ressurreição da carne, na infalibilidade do Papa, com a inteligência. Sem dúvida, também é isso. Mas o primeiro passo de fé não é crer intelectualmente, mas confiar em Deus: naquilo que Ele é. Acreditar nas verdades que a Igreja ensina é uma conseqüência disso [fé].
Ao ler os Atos dos Apóstolos, vemos que Paulo ia de cidade em cidade pregando o Evangelho. Em todos os lugares, ele deparava com incompreensão, fofocas, perseguição e era sempre levado aos tribunais. Muitas vezes foi condenado; apanhou e foi apedrejado.
Quantas vezes o apóstolo saiu das sinagogas apanhando... Mas em quem Paulo confiava? Em Deus! E porque confiava em Deus, apesar de toda perseguição, ia em frente. Inspirado por Deus, ele foi para Jerusalém, pois queria expor a seus irmãos o que lhe havia acontecido. Queria contar-lhes sua conversão e pregar o Evangelho. E o que aconteceu? Os próprios irmãos, sacerdotes do Deus vivo, se opõem a ele e o levam à prisão. Assim relata o livro dos Atos dos Apóstolos:
“No dia seguinte, resolvido a saber com certeza de que os judeus acusavam Paulo, o tribuno mandou tirar-lhe as correntes; depois ordenou uma reunião dos sumos-sacerdotes com todo o Sinédrio, e mandou Paulo descer para que comparecesse perante eles. Com os olhos fitos no Sinédrio, Paulo declarou: ‘Irmãos, é com uma consciência livre de qualquer remorso que eu procedi para com Deus até este dia’. Mas o sumo-sacerdote Ananias ordenou aos seus assessores que lhe batessem na boca” (At 22,30.23,1-2).
O sumo-sacerdote estava ali para julgar. O réu tinha todo o direito de se defender. O apóstolo dos gentios começou dizendo: “Irmãos, é com uma consciência livre de qualquer remorso que eu procedi para com Deus até este dia”. Mas Ananias, sumo-sacerdote, mandou os que estavam a seu lado que lhe batessem na boca. Incrível: Paulo estava diante de quem? Diante do sumo-sacerdote: o representante de Deus no meio do povo na época.
“Paulo lhe disse então: 'É a ti que Deus vai ferir, parede caiada! Tu te sentas para me julgar segundo a Lei e, sem consideração à Lei, ordenas que me batam?' Os assessores o advertiram: 'Tu insultas o Sumo Sacerdote de Deus!'” (At 23,3-4).
Na verdade, o apóstolo não sabia que se tratava do sumo-sacerdote (havia muito tempo estava fora de Jerusalém), por isso o chamou de hipócrita. Quando o soube, humilhou-se e disse:
“Eu não sabia, irmãos, respondeu Paulo, que ele era o sumo-sacerdote; de fato, está escrito: 'Tu não insultarás o chefe do teu povo'” (At 23,5).
Até as últimas consequências, o apóstolo dos gentios confia unicamente em Deus. Sua fé o faz agir corajosamente.
Como Paulo, temos de confiar exclusivamente em Deus, fundamentados numa fé que nos garante que nossa segurança está n'Ele. Todos, neste mundo, falham: marido, esposa, pai, mãe, filho, sacerdote, bispo... As pessoas nas quais mais confiamos e que mais amamos são humanas e, por isso, falham. Não é que vamos deixar de acreditar nelas. O problema é que, se depositamos nossa confiança apenas em pessoas e, pior: se achamos que elas não erram e não decepcionam, vamos viver de frustração em frustração.
Em Deus está nossa confiança! Quantas esposas se apoiam totalmente em seus maridos. Esquecem que eles são de carne e osso e falham. Consequentemente, as esposas se decepcionam. O mesmo pode acontecer com os homens: se depositam sua confiança na esposa, no trabalho, nos negócios... logo vem a decepção!
Quantas pessoas confiaram unicamente no padre, na religiosa, esquecendo-se de que são pessoas e podem errar. É necessário que caminhemos com elas, porém, nosso apoio está em Deus.
Precisamos reavivar nossa fé. Não é simplesmente acreditar em algumas verdades: é confiar em Deus. Confiar naquilo que Ele é. Não posso confiar em Deus somente se Ele me curar, se resolver meus problemas... Devo confiar no Senhor incondicionalmente: se não obtive a cura desejada, devo continuar confiando n'Ele. Busco, amo e confio em Deus por causa d'Ele, e não pelos benefícios que isso possa me oferecer.
Muitas vezes o Altíssimo faz maravilhas em nossa vida. Ele melhora situações econômicas, reconstrói casamentos, cura doenças... Mas, infelizmente, muitos apoiam sua fé apenas nisto: creem somente se o Senhor fizer o que desejam. Não é assim! Temos o exemplo de Paulo que só teve decepções com seu povo e com o sumo-sacerdote, mas, ainda assim, continuou confiando no Senhor. O alicerce de sua fé não estava nas pessoas, mas unicamente em Deus. Por isso não se decepcionou.
(Trecho extraído do livro "Divina Providência - Considerai como crescem os lírios" de monsenhor Jonas Abib)
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